O par imperfeito

Lindo e linda — era assim que eles se chamavam.

O amor aconteceu entre 20h e 23h, num domingo de agosto. Foi o primeiro encontro, o primeiro beijo, o primeiro dois pra lá e dois pra cá.

E ninguém sabe ao certo o que despertou tanto - talvez o cheiro da pele dela, talvez o jeito dele sorrir com os olhos, talvez a leveza que ela exalava, talvez a intensidade que ele entregava.

Não teve jeito: o amor tinha que nascer ali. Estava escrito.

Depois, tudo o que veio aconteceu bonito igual — as disponibilidades, os carinhos, as trocas de experiências, os diálogos sem fim, até que o sono os invadisse. O desejo era pressa e consumia os dois, desde o elevador antigo do prédio dele até o adentrar da casa. 

Ela contou às amigas com tanta certeza:

— Encontrei o meu futuro par.

Sentia que algo especial estava acontecendo.

Ele também não parecia ter dúvidas: queria viver as aventuras e os sossegos dela.

Não necessitavam de rótulos — e assim, ele até foi seu par, num baile de forró, na comemoração do aniversário dela.

As pessoas que os viram dançar comentaram: — Que conexão incrível a de vocês! 

Não era conexão de corpos, mas também de almas.

As circunstâncias não importavam. Quiseram-se nas noites quentes ou frias, mesmo num colchão de solteiro, no chão de uma casa muito engraçada, que só tinha jogos e medalhas. E ela não se importava. Era o melhor lugar para dormir, mesmo não sendo tanto assim.

Apesar de tantos floreios, ela enxergava os espinhos dele.A bagunça, o caos, o atraso — desde o primeiro encontro. Mas isso não a assustou. Queria deixar ver o amor acontecer, sem pressa, sem medo.

Ele, no entanto, antes mesmo de conhecer os defeitos dela, teve medo dos próprios. Não soube encarar. Perdeu-se nos seus anseios e devaneios.

E assim, os passos e os abraços já não dançam mais. Perdeu-se o tom, perdeu-se o ritmo.

Talvez tenha sido um amor escrito apenas para uma canção. E agora, ela já não toca mais.


"Talvez entre tantos talvezes a gente ainda há de ser..."

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