Do amor que não se sabe

Era uma noite fria, tinha estrelas e a lua no céu encantava a todos que olhassem para ela. Não era um dia qualquer, as ruas estavam calmas e a praça estava inexplicavelmente vazia, porém, com a presença dela nada disso poderia ser tão mais perfeito.

Eu a vi de longe, ela estava lá sentada e sozinha, tão bela, com traços perfeitos, pele pálida de tão branca, bochechas rosadas, cabelos encaracolados, longos e preto. Estava preso no alto de um jeito que eu sempre achei engraçado e bonitinho, era mania dela, havia uns fios soltos, acho que ela os deixava de propósito. Tem os olhos castanhos, nariz pequenininho e arrebitado, mãos delicadas, boca que me arrepia só em olhar, um corpo tão singelo e não cabe em palavras. Parecia uma daquelas bonecas de pano, dessas que se compra em lojinhas de brinquedos.

Eu não me aproximei, não imediatamente, quando eu a vi, congelei e fiquei a admirá-la. Havia algo nela nesse dia, se eu ainda não estivesse apaixonado por ela, me apaixonei ali, naquele instante.

Ela estava abaixada sobre um caderno velho com um lápis numa mão, e a outra estava em seu rosto, ela olhava com curiosidade para a folha, pensativa também, nunca quis saber o que ela desenhava. Sim, ela estava desenhando, sempre gostou de desenhar, apesar de não ter um grande talento para isso, até cursos de desenhos já fez. O que ela faz muito bem é cantar, tem uma voz suave e doce. Gosta de acompanhar o canto dos pássaros toda manhã, para cada dia uma canção. Ela cantarolava enquanto desenhava, cantarolava a música que tocava quando nos conhecemos. Era uma bossa que eu nunca gostei até aquele momento. Nos conhecemos num barzinho que tem perto da praça. Foi numa noite quente de verão e ela estava deslumbrante, com um vestido azul, sandália baixa e cabelos soltos. Não tinha notado a presença dela até então, fomos dançar e ela pisou em mim. Quando olhei pra ela, seus olhos me chamaram a atenção, soube que teria de conquistá-la, não sei se foi propositalmente, e se foi, foi a dor que mais valeu a pena.

Por um momento meus olhares se distraíram para um canto da praça, senti falta de uma árvore que tinha ali, era uma goiabeira, ela sempre me pedia para subir e pegar goiaba, é a fruta preferida dela. Lembrei que foi num temporal do inverno passado que a chuva destruiu aquela árvore. Plantarei outra amanhã, pensei.
Ela parou de desenhar e se calou, ficou um tempo olhando para o mesmo lugar que eu. Tenho certeza que ela pensara a mesma coisa. Plantaremos outra amanhã.
Eu ri, ela sorriu e veio até mim.

De repente ela ficou fria como aquela noite, as estrelas não brilhavam mais e a lua tinha se escondido. Ela voltou a se sentar onde estava, dessa vez ela só olhava para o nada, eu não fazia ideia do que fazer, fiquei ali parado sem reação. Algum tempo depois ela me olhou e perguntou se eu continuaria parado feito um bobo ou sentaria ao seu lado, eu definitivamente não sabia o que havia acontecido, o que tinha passado pela cabeça dela, mas sem hesitar, fui.

Ela realmente era um mistério e eu quero desvendar...

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