Outra carta para o céu

Ei, Vô. Como estão as coisas aí em cima? Espero que melhores do que aqui. Estamos vivendo um verdadeiro caos, sendo que talvez não tão diferente daquilo que o senhor já presenciou em terra também. Muitos de nós estamos tentando ignorar para viver mais leve, sabe? Não sei dizer se é o correto, mas também... Quem sabe? O tempo passa tão rápido e as coisas pra muita gente é tão difícil, que aproveitar os momentos bons é como se fosse um antídoto para não enlouquecer. A vida talvez seja meio que isso, né?! Saber enxergar a oportunidade de viver coisas boas, senão a gente pira.


Sinto falta de ti, mas não se preocupe, estou bem. O senhor nos deixou de presente tanta gente para amar e esses laços são eternos. Apesar de ter o meu próprio ninho, quando preciso de um pouquinho de amor, é naquele quintal que encontro o mais puro e sincero. Sou tão feliz pelas minhas memórias ali, o senhor nem faz ideia... Como a do senhor me soltando naquela bicicleta roxa sem rodinhas pela primeira vez... Nossos bens mais preciosos são as nossas memórias dos momentos mais simples, eu bem sei. Elas alimentam o nosso espírito de afeto e amor.


Olha, não sei dizer o motivo dessas cartas endereçadas a ti, talvez seja uma forma de reviver aquelas conversas profundas e tão comuns que tínhamos na varanda de casa. Sempre achei o senhor muito sabido, viu?! E é o meu exemplo de simplicidade. O senhor teria adorado conhecer o seu bisneto, ele é a nossa maior alegria. Certamente aprontaria todas contigo, além das conversas que durariam pra lá de horas também. Ele é uma figura.


Vô, acredito que esteja bem aí, mas caso queira aparecer novamente para dar notícias, ficarei feliz em vê-lo.

Até. 

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