A madrugada sua

Desculpa-me se estou lhe telefonando a essa hora da noite, mas sabe como é, esse meu coração idiota insiste em ouvir sua voz em dias assim. Sim, minha insônia anda me castigando por eu não ter mais  você ao lado direito da minha cama. Essa cama que era tão nossa antes de você partir por conta daquelas bobeiras que fizeram deixar um buraco neste quarto e no coração da gente. Eu sei que a culpa não foi sua, mas também não foi minha, oras. Vamos culpar a quem? Deus? Não. Foi culpa nossa. Você teima comigo feito uma criança chata, isso me tira do sério. Mas sinto falta de gritar com você, tacar as coisas e me estressar porque não para de rir da minha cara. Ainda diz que eu fico muito sexy me mordendo de raiva. E eu adoro testar sua paciência comigo, te perturbar, fazer coisas que você odeia até eu cansar e desistir porque você não se irrita loucamente como eu gostaria. Eu achava que você não fazia isso porque era muito bonzinho comigo, até que eu descobri que você gosta do meu bico quando faço cara de decepcionada e corre logo pra me encher de dengo. Sei que agora você deve estar sorrindo com os olhos bem pequenos cheio de sono, lembrando de como eram boas essas coisas e que agora lhe incomodam fazendo falta também. Tome um pouco de café, hoje a noite será longa. Sei muito bem que você detesta café sim. Imaginei você revirando os olhos e fazendo careta, porque você cansa de repetir pra mim que não gosta de café e seus derivados. Eu sempre te achei muito metido quando fala, principalmente quando quer aparecer. E faz isso só para implicar comigo. Aí te odeio por quase um segundo. Eu tenho tanta coisa para lhe falar, você fez tanta falta nessas últimas semanas, sempre fez. As coisas por aqui andam muito sem graça. Vai ser um pouco difícil de acostumar, ou talvez eu nem precise, você poderia voltar e parar de vez com isso. Cessar de vez essa droga de orgulho imbecil. Você não vê que passou da hora de voltar pra casa? Será que você não pode ser o primeiro a se redimir pelo menos uma única vez? Não, não desligue, por favor. Não vou mais gritar. Não sei bem porquê, mas me veio à cabeça aquele dia que fomos ao parque no centro da cidade andar de bicicleta, caiu um temporal no final da tarde e nós viemos correndo da estação até em casa. Chegamos molhados e você começou a me agarrar na portaria do prédio, na frente de pessoas. Lembra? Você notou as minhas bochechas vermelhas que pegavam fogo de tão sem graça que você me deixou. Arrastou-me para a escada de emergência, me olhava com aquela cara de safado que me faz pirar, me jogou nos cantos das paredes, rimos feito loucos, subimos correndo os três andares de escada até o nosso apartamento. Enchemos a cara por mero prazer de colocarmos a culpa da nossa insanidade na bebida, quando estávamos mesmo é embriagados de amor. Ficamos o restante do dia na cama, foi um dos melhores dias com você. Acordei por volta das 11:30h e você não estava lá do meu lado. Vesti a sua camisa cinza, que é a minha preferida em você, e é a sua preferida em mim também. Fiquei parada na porta da cozinha te olhando por alguns minutos, você preparava o nosso café da manhã, ovos mexidos, cuscuz e café puro; e cantarolava. E eu sei que só faz isso quando está feliz. Lembro que levou um susto quando me viu te observando, mas riu bonito e piscou pra mim, tão doce como fez no dia que nos conhecemos. Você mal deve lembrar, mas isso fez um ano na semana passada. Os dias estão passando tão lentos, estão se arrastando. Tá faltando você aqui em mim. Faltando eu aí em você. Tá faltando o que somos quando estamos um com o outro.

Comentários

Eu viajei aqui junto com esta história belíssima. Os sentimentos estão bem aflorados. Bonito essa suavidade presente na maneira de tu contar a beleza de um amor vivido, sentido na plenitude.

Que coisa linda meu anjo!!

Beijo doce!
Carol Garcia disse…
e se faz um ano porque esse amor tão bonito parece estar distante, bom pelo menos eu entendi assim.
se faz tanta falta vc está precisando sim e deve ser completamente reciproco.
carlinha ficou lindo.
Bjs ~
disse…
Depois de dividir a mesma camisa fica estranho não dividir o quarto. Lindo texto :)
Felipe Braga disse…
Uma leveza tão bela, um lirismo tão lindo.

Esse estar um no outro é quando o amor atinge a plenitude. Mas às vezes assusta. hehe

Beijos.
Michele disse…
Carla, obrigada pelo carinho no meu post sobre a Maria Clara! Você é muito querida!

Quanto ao seu post, o tempo gosta mesmo de brincar com a gente. Torna-se relativo e quase chega a parar quando ouve falar de saudade!

Um beijo!
Michele disse…
Boa semana pra você também, querida!

Beijos nossos!

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