Embriagada de você

A cidade está cheia e barulhenta, é um pouco mais de meia-noite, as pessoas sorriem entre as conversas que não me interessam muito, a música do Tiee toca em algum lugar, os copos de cerveja estão pela metade e penso que eu deveria beber também, para quem sabe amanhã acordar com uma ressaca do caralho e colocar a culpa dessa saudade de você na bebida. Mas não, a sobriedade insiste em me torturar esta noite. Percebo a minha volta, todos parecem completamente à vontade e sinto como se eu não pertencesse a este lugar. Alguém me questiona sobre algum assunto no qual não estou prestando nenhuma atenção. A minha mente não está aqui, ela está em casa, no meu sofá da sala, no céu estrelado que posso ver da minha janela, no telefone que toca. É mensagem sua pedindo para vir me ver. Então você chega, me abraça apertado, pergunta sobre o meu dia, me mostra os pacotes de bala fini que você é tão viciado e trouxe pra gente, coloca as minhas pernas por cima das suas e sem muito jeito fica apertando os meus pés com a boa intenção de fazer massagem. Tentamos escolher alguma música e eu deixo que você decida primeiro. Vamos ouvir Oriente, você diz; e também comenta que os preferia antes de ser modinha, quando ainda tocavam em alguns lugares de Niterói. Eu posso enxergar um universo completamente diferente daquele que eu conheço através do seu olhar, enquanto você fala, fala e fala sobre todas essas coisas tão particularmente suas; e notei que você aperta os lábios quando pausa o seu discurso, mas ainda quer dizer algo mais. Então o tempo passa, eu preparo um balde de pipoca, você sugere que a gente assista a algum documentário. E a cada pensamento concluído, temos que pausar para debatermos sobre as nossas reflexões a respeito do assunto. Você me abraça, eu me enrosco nos seus braços e os nossos pés começam a embolar uns com os outros sob o sofá-cama. Noto um longo momento de silêncio e o óbvio, você pegou no sono. Desligo a TV, escuto a sua respiração por alguns instantes, faço cafuné nos seus cabelos, que tem cheiro daquele shampoo de bebê, até que eu durmo também. Logo eu volto para a realidade tão vazia daquilo que realmente me preenche; e ironicamente o meu copo de cerveja está no fim, mas ainda não estou bêbada o suficiente para a embriaguez amenizar a falta que você faz.

Comentários

Anônimo disse…
Até na quarentena tu faz poesia ... adorei
Bianca disse…
Arrasa demais
Jaya Magalhães disse…
Você me inspira. Esse texto eu amei e reli outra vez antes de comentar. Me sinto como se fosse transportada para um lugar muito bom enquanto a leitura flui. O final é como acordar de um sonho.
Danieli Mota disse…
Maravilhosa essa estrela nada distraída. Pra se atentar a tantos detalhes posso dizer que essa estrela é muito atenta isso sim!!! Parabéns mais um grande talento

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