Sobre um dia de setembro
É setembro, sexta-feira, 06:00h, despertador toca... Volto a dormir. 06:30h e ele toca de novo, olho para a cabeceira ao lado da minha cama e levanto num pulo. Estou atrasada. Entro no banho e não molho o cabelo, porque nunca saio de cabelos molhados. Me arrumo depressa e sem vontade nenhuma de ir trabalhar - por mim, hoje nem teria saído da cama. Teria sumido do mundo. Não sei. - Tomo o meu café preto forte e tão quente que queimo a ponta dos meus dedos na xícara. Pego o trem das 07:00h. Sempre tão lotado. Sempre aquele empurra-empurra. A moça das balas, o moço do jornal. - Senhor, me vê um por favor? - Encosto-me na porta do trem e tento ler o meu. Política. Acidentes. Tráfico. Novelas. Canso do jornal. Desço nessa estação. Pessoas correndo, pessoas falando (ou seria gritando?). Chego ao escritório e sei que hoje será só mais um dia estressante e que sairei desse lugar com dor de cabeça e com um monte de papéis para revisar até segunda. Ainda bem que hoje é sexta-feira.
São meio-dia. Não estou com fome, mas como é de praxe, farei companhia àquele moço que não gosta de almoçar só. Tem uma postura elegante, cabelo grisalho, pele enrugada, olhos azuis, que apesar do óculos grande, chamam atenção. Gosto de ouvir suas histórias, sobre suas namoradas, sobre suas amantes e sobre seu único amor. Única a quem ele foi fiel, única a quem enviou flores, única a quem escreveras quando quis falar sobre o amor. A única que ele nunca teve de fato para chamar de seu amor. Para mim, esse é o moço mais interessante de todo o prédio.
Finalmente o dia chega ao fim. Já é bem tarde da noite quando finalmente saio do escritório. Vou para casa, porque não vejo a hora de jogar todas essas folhas em cima da escrivania. Nunca as reviso mesmo antes de domingo à noite. E vou para casa, porque hoje a única companhia que me faria bem é a do moço de cabelos grisalhos, que a essa hora já deve estar pronto para dormir lendo o meu livro favorito, o qual lhe emprestei no mês passado, vestindo umas meias grossas, apesar do calor que faz nesta noite. Ou a companhia do moço bonito e gentil que mora dois andares abaixo do meu - gosto do último andar, o céu, as ruas, as árvores, tudo é mais bonito daqui de cima - que sempre me espera no elevador e me recebe com um doce "bom dia" e um sorriso simpático. Ele tem lábios rosado, mãos grandes, olhos negros, usa um óculos que o deixa com cara de sim-eu-sou-cult. É um moço um tanto engraçado, desajeitado e bem alto. Ele foi passear numa cidade vizinha e volta daqui uns dias. Esqueci-me de quando exatamente.
Nada de bom passa na TV. Também pudera... Sexta à noite. Há um tempo estava num barzinho desses da vida com algumas amigas da faculdade. Que falta eu sinto da minha vida corrida e sem graça de aulas, alguns professores chatos e alguns que eram até divertidos, das minhas reclamações sem motivo.
São 23:00h e estou sem sono. Tomarei café. Não sinto sono e quero dormir, mas sinto uma vontade louca que cresce dentro de mim de tomar café. Vou até o telhado do prédio, olho as ruas. Essa noite não ficarei em casa. Pego as minhas chaves e desço. Vou andando, não sei pra onde, mas vou andando por essas ruas boêmias, vendo pessoas bebendo, conversando, rindo, dançando, cantando no karaokê. Nunca tive coragem pra isso, as pessoas sempre me lembram de como eu canto mal toda vez que tento cantar um trechinho de qualquer música que seja. Agora ouço Vinicius cantando "eu não ando só, só ando em boa companhia" no fone de ouvido. Dou um sorrisinho e continuo andando. Vou seguindo o silêncio. Estou a uns 20 minutos de casa e uma angústia vai me invadindo devagar, daquelas que faz doer o peito, a mente. Uma angústia com uma pitada de nostalgia. É, hoje não é um dos meus melhores dias. Fico ali, parada, pensando. E sento no meio fio de uma rua deserta. Ainda escuto o barulho daquela gente que dança, canta, bebe. Agora é a vez de Renato Russo contar a história do Santo Cristo. Eu sabia cantá-la sem precisar de olhar q letra. Nem sei se ainda sei. Tanto faz. Procuro meu cigarro. Droga. Esqueci ao lado do meu celular que sempre faço questão de esquecer em casa para me desligar do mundo às vezes. Sempre brigam por não carregá-lo comigo.
Sinto sono. Vou-me embora pelo caminho mais curto para que ele não se perca por aí. Chego em casa e deixo as chaves em cima da mesinha de centro na sala. Pego o cigarro, deito no sofá e apago ali mesmo, sem nem acendê-lo.
Comentários
Muito bom.
Maurizio
Tenha uma linda semana!
Beijo
gostei dele.
um bjão *-*
Obrigada, querida!
Beijo bem grande!
[Obrigada pela visita e pelas gentis palavras. Volte, sim?]
Meu beijo
Bonita história. A poesia se encontra na naturalidade presente.
Adorei!!
Beijos Carlinha.
aah vou colocar isso no meu texto novo.]
vc até me inspirou.
bjs e obrigada mesmo :D
Ah desculpe-me, não me apresentei, meu nome é Thais Wunder, estou seguindo o seu blog, amei seus posts.
Se quiser passa lá no meu blog http://thais-wunder.blogspot.com , estarei sempre aqui comentando seus posts.
Beijos.