Não é saudade, mas é tão bonito a gente



Ei, moço, vem cá. Deixa eu te contar do sonho bonito que eu tive com a gente outra noite.
 
O dia estava incrívelmente azul, bem limpinho. Daqueles céus de outono que juntos gostávamos tanto. Você chegava aqui em casa sorridente e eufórico - lembro que dias assim te deixavam desse jeito - e me convidada pra desbravar o mundo por aí, como naquela época que a gente se entendia bem, sabe? Nem tive tempo de pensar, o teu entusiasmo era tanto que não tinha outro jeito senão embarcar nessa tua ideia. Daí você me levou em uma praia linda, deserta, só nossa. Longe de todos esses prédios de cidade grande. Tinha uma pequena trilha pra acessar a praia, parecia até cena daqueles filmes de romance que a gente vê na TV. Que eu vejo, né, no caso. Você não. De um lado a imensidão do mar, de outro uma imensidão do verde das árvores. Eu não precisava de mais nada nessa vida. Ali, aquele momento, era a definição perfeita pra mim do que é estar paz com alguém que te traz paz. Você lia algum artigo acadêmico, e eu um livro sobre feminismo que uma amiga havia me emprestado. E entre uma leitura ou outra tu me dava um cheiro, um beijo ou uma piscadinha de olho acompanhada desse teu sorriso sacana. Daí você me chamou para entrar no mar, mas eu recusei, pois queria ficar te olhando de longe, admirando teu corpo, tua cor, o teu jeito de caminhar que eu acho meio metido e presunçoso e os teus mergulhos na água. Causando uma impressão de que você seja parte da natureza e filho de Iemanjá, por tanta sintonia e conexão com o mar que demonstrava ter. Então você voltou até mim. Disse que não poderia continuar me vendo sentada ali na areia e que eu deveria entrar também. Aí eu fui, mas parei na beirinha pra molhar só os pés, tentando disfarçar o meu medo. Você que não é bobo nem nada, logo notou. E perguntou: "quer que eu te dê a mão pra entrar?". Derreti no mesmo instante por você. E respondi: "quero sim". E caminhamos juntos de mãos dadas direção ao mar.

Aí acabou, eu acordei de um sonho bom. Tudo continua igual. E não é que eu sinta saudade tua. Mas a ideia de nós dois ainda é tão bonita pra mim.

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