Não sobrou mais nada

As lembranças dos momentos de dor deram um apagão em tudo de bonito que nós vivemos por mais tempo que eu gostaria. Foi importante no início pra que eu me curasse, sabe. Mas nunca foi a minha intenção esquecer. Durante anos nós fomos os melhores amigos um do outro. Uma pena que não sejamos mais. Uma pena tanta coisa. Sorríamos tão bonito juntos. E nos entendíamos através de uma simples troca de olhares. Às vezes nem necessitávamos de palavras. Mas quando falávamos, era assunto para lá de horas. Éramos muito o encaixe um do outro. As nossas diferenças se completavam de um jeito assustadoramente bom. Sem contar que não havia nada nesse mundo que me pusesse medo, pois você estava ali pra cuidar de mim e me proteger. E se eu tropeçasse ou se algo me derrubasse, você me segurava com tanto amor. Eu queria recordar com mais detalhes. Às vezes eles não vêm. Talvez seja uma autoproteção, sei lá. Senti muita falta de alguém pra dividir o meu dia como nós fazíamos. Você era o meu diário ambulante. Fiquei meio perdida depois do fim, depois que você não estava mais aqui. Quebrei a cabeça para configurar a TV, jantava pipoca todos os dias e demorei a aprender organizar a minha rotina, você é tão melhor que eu nesse negócio de organização. Acredito que muita coisa tenha sido difícil pra você aí também. Apesar do meu jeito um pouco desajeitado, procurava sempre te agradar e expressar o meu amor por você. E de grão em grão construímos o nosso castelo de areia. Parecia ser firme e que nada o abalaria. Mas alguns ventos passaram e aos poucos o nosso castelo foi desabando, até que por fim levou tudo. Não sobrou mais nada.

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